O Instituto de Apoio à Criança completou 30 anos!

Lembro-me bem de ter ficado muito contente com a notícia!

Era então delegada do procurador da República em Setúbal e vivíamos nessa altura uma outra crise também muito profunda, com elevado desemprego, falências de pequenas, médias e grandes empresas, salários em atraso, que conduziam a situações dramáticas, com consequências muito adversas em especial para as crianças em todo o Distrito de Setúbal.

Lembro-me bem, sim. As mulheres entravam no meu gabinete com as crianças pela mão e falavam-me de fome e do desespero que sentiam por não terem meios para o “sustento”…..

Lembro-me das suas queixas, que denunciavam as mais horríveis violências contra elas próprias e os seus filhos.

Lembro-me de ter pensado que tinha sido uma excelente ideia criar uma organização inteiramente dedicada à Criança e que talvez assim houvesse uma maior atenção para que elas não sofressem tanto os efeitos da crise.

Tinha-se juntado um conjunto de profissionais ligados à criança, pediatras, professores, educadores, magistrados, poetas e escritores que tinham respondido ao apelo de Manuela Eanes para fundarem o Instituto da Criança.

Logo no ano seguinte houve um Seminário memorável na Gulbenkian em que pela primeira vez se falou de uma forma interdisciplinar sobre os maus tratos e os abusos sexuais infligidos às crianças.

Depois, foi criado o “SOS Criança”, uma linha telefónica de apoio às crianças, serviço anónimo e confidencial que até hoje já atendeu mais de 80 mil chamadas.

E em 1989, foi criado o Projeto das Crianças de Rua, dirigido às crianças e jovens expulsos de casa, ou em fuga, designadamente de instituições, e que vagueavam pela cidade, praticavam a mendicidade ou pequenos furtos e dormiam sobre as grelhas do metropolitano ou nas camionetas então estacionadas no Campo das Cebolas, expostos aos mais diversos perigos.

Foi também criado o Projeto da Mediação Escolar visando apoiar alunos dentro do recinto escolar, através dos Gabinetes de Apoio ao Aluno e à Família, para prevenir o insucesso e o abandono escolar e situações de conflito entre pares.

E ainda o Setor da Humanização dos Serviços de Atendimento à Criança, e o Setor da Atividade Lúdica e o Serviço Jurídico e a Rede Construir Juntos…

Trinta anos passaram e estamos mergulhados noutra crise.

Novos desafios nos convocam, continuamos a fazer os atendimentos telefónicos, a fazer giros noturnos para prevenir situações de perigo, e para encontrar crianças desaparecidas, a ajudar as famílias a encontrar-se, quando não veem saída para os problemas, a prestar apoio jurídico, a encaminhar as situações de risco e de perigo, estamos em nove Programas Integrados de Educação Formação, estamos em Hospitais e Centros de Saúde a divulgar a Carta da Criança Hospitalizada, estamos em Centros Lúdicos a promover o jogo e o brincar.

Hoje, o Instituto de Apoio à Criança é uma Instituição de referência no nosso País e a nível internacional.

O IAC tem uma equipa de excelentes profissionais. Parabéns a todos pelo trabalho de grande mérito que vêm desenvolvendo.

Pela sua tenacidade e pela sua liderança, merece um especial reconhecimento neste dia, a nossa Presidente, Manuela Ramalho Eanes, que nos entusiasma com a sua dedicação e com tudo o que nos ensina sobre o empenho na causa da Criança, e que nos motiva com o seu afeto, que entende deve sempre acompanhar a nossa atividade.

Vamos prosseguir, contribuindo para um mundo de mais direitos, mais respeito e mais dignidade para as crianças!

 – Dulce Rocha

Um comentário sobre “O Instituto de Apoio à Criança completou 30 anos!

  1. Por vezes, pais de crianças com algumas dificuldades intelectuais, na sua ânsia de melhor servir o seu filho, mantêm uma atitude que prejudica o seu filho e que não lhe permite criar a autonomia possível ao desenvolvimento. Mas quem somos nós para criticar? Nós não temos filhos com estas características…alguém está preparado para ter filhos com características diferentes? Na verdade, ninguém está preparado para ter filhos com esta ou aquela características! Todos nós fazemos isto ou aquilo, porque achamos que é o melhor, também ninguém nos ensinou a lidar com os nossos filhos, eles não são como os electrodomésticos que trazem livro de instruções. Fazemos, isto ou aquilo, apenas, “porque sim”, porque achamos que é o melhor para eles. Os pais que têm filhos que necessitam de mais meios para se desenvolver, na sua ânsia de os proteger contra a adversidade do mundo, por vezes, sem se aperceberem, constroem uma redoma à sua volta, impedindo-os e se desenvolver dentro da autonomia possível àquela criança. Estes pais precisam de apoio e os professores devem aprender com estes pais a conhecer estas crianças de modo a melhor servi-las na escola. Por isso, o meu apelo aos pais: “Pais de crianças que necessitam de mais recursos do que alguns dos seus coleguinhas, ajudem-nos a ajudar os vossos filhos. Exijam da escola o que esta deve dar. Perguntem qual foi a evolução da vossa criança durante um período escolar. Não se limitem a assinar um plano de estudos que contém palavras que não conhecem. Perguntem o que é que a vossa criança não sabia fazer, tendo em conta a idade e a sua facilidade de execução e o que ela passou a saber fazer no final do período. Perguntem em que aspectos ela evoluiu. Não basta fazer parte de uma sala de alunos para estar incluído, se a matéria que se dá não faz parte dos cadernos destas crianças porque elas se recusam a escrever, embora o saibam fazer. Para algumas crianças, as aulas diárias são uma tortura, nem se limitam a ouvir, limitam-se a conversar, porque a execução do plano de estudos destas crianças agora está a cargo do Director de Turma que nem sempre sabe como agir e, mesmo quando sabe, não tem tempo, pois a carga burocrática e afectiva do Director de Turma é de tal modo pesada e desgastante que nem sempre consegue atender às necessidades específicas de uma só criança. Isto não é de modo nenhum uma crítica aos pais ou aos Directores de Turma. É uma constactacão, pois ninguém consegue fazer milagres. A concretização deste plano deveria estar a cargo do docente de Educação Especial. Este docente deve ter como formação base a faixa etária à qual a criança pertence. Se uma professora tem como formação base determinada faixa etária, como por exemplo, a do 1º Ciclo, porque está esta docente a organizar planos destinados a crianças dos 2º, 3º ciclos e secundário? Os médicos não são especializados em diferentes áreas, apesar de terem a mesma formação de base? Como pode um professor com formação de base do 1º Ciclo, apoiar uma criança do 3º ciclo, se não está a par dos programas? Por isso, pais, exijam, façam valer os direitos das crianças que são de todos nós e, em conjunto com os professores encaminhem-nas para o futuro que é delas. Não assinem nenhum documento se tiverem dúvidas, perguntem o que é isto ou aquilo. Não tenham receio de perguntar, a nossa obrigação é explicar! Sei que por vezes, os pais quando põem os filhos na escola julgam que, finalmente, eles vão aprender aquilo que eles próprios não puderam ensinar porque não sabiam…agora os seus filhos vão aprender tudo, até têm um professor especializado… mas nem sempre é assim! Por todas estas razões e muitas mais, peço: ajudem-nos Pais!” Edite Coelho

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